Profissionais líquidos: as sabedorias de Zygmunt Bauman e Bruce Lee aplicadas à sua carreira

Lucas Lima, fundador e CSO da Profissas que estará no RD Summit 2022, explica o que o filósofo e o mestre das artes marciais têm em comum

Lucas Lima
Lucas Lima26 de setembro de 2022
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Já começo esse papo tirando o elefante branco da sala: ninguém gosta de ser considerada uma pessoa volátil. Afinal, como podemos confiar em uma pessoa inconstante, que muda facilmente de ideia, direcionamento ou intenção? O mundo muda tanto, e tão depressa, que é melhor ter na sua equipe apenas pessoas que representem segurança, constância, imutabilidade… Certo?

Errado.

Quando utilizadas como adjetivos, palavras como volátil e volúvel carregam certo negativismo, mas a realidade é que precisamos da capacidade de mudar, de se transformar - e de voar ao sabor do vento - que os substantivos trazem. Uma carreira verdadeiramente sólida não é aquela em que o profissional nunca muda, mas para a qual ele se prepara, a cada novo desafio, para que ela perdure por anos.

Existem duas pessoas a quem podemos recorrer para fundamentar a importância de construir carreiras longevas e produtivas, sem medo de errar ou soar piegas: Zygmunt Bauman e Bruce Lee. O primeiro foi um filósofo e o segundo, um ator, e ambos, cada um em sua carreira, foram muito mais que isso.

Bauman, autor do livro Modernidade Líquida, foi um polonês que lutou na Segunda Guerra Mundial e encontrou o amor em um campo de refugiados. Lee, artista marcial que protagoniza o clássico Operação Dragão, ficou mundialmente conhecido por disseminar a cultura kung-fu em seus filmes. Anos depois de sua morte, seria incensado, dentre muitas outras reflexões, pela fala de seu personagem na série Longstreet, de 1971: “seja água”.

Nem a carreira de Bauman e nem a de Bruce Lee são fáceis de explicar, pois eles foram absolutamente profundos em suas convicções e colocações. Mas uma coisa não se pode negar: olhando para a obra de cada um deles, vemos uma semelhança incrível na forma de pensar o futuro. Para o polonês e o sino-americano, a resposta estava na adaptação.

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A forma da água

Quando o mestre Bruce Lee entoou o famoso mantra “seja água, meu amigo” na série Longstreet, de 1971, ele não estava apenas aconselhando um policial com sede de vingança, mas desejando a toda uma geração a habilidade de se adaptar.

O conceito não é novo, conforme nos mostrou Charles Darwin mais de 100 anos antes de Bruce, na obra Sobre a origem das espécies através da seleção natural:

NÃO É O MAIS FORTE E NEM O MAIOR QUE, NECESSARIAMENTE, SOBREVIVE. É O QUE MELHOR SE ADAPTA AO SEU HABITAT.

Segundo Darwin, nascimento e extermínio das espécies ocorrem através do princípio da tentativa e erro. Os primeiros homens e mulheres que habitaram a Terra deram suas mancadas para que a espécie aprendesse a se defender. Talvez muitos tenham chegado perto demais de um animal feroz para que a espécie entendesse que isso era perigoso, ou tentado andar sobre o fogo antes de perceber que essa era uma má ideia.

O que Bruce Lee diz em seu mantra “seja água” é que devemos levar em consideração todo o processo de tentativa e erro que nos trouxe até aqui, e que pode (ou não) nos levar ainda mais longe. Ele aconselha que, em vez de ficarmos sempre presos a uma única forma, um único jeito de pensar e fazer as coisas, sejamos como a água, que assume a forma que o recipiente tem e, assim, se torna encaixável em qualquer contexto.

É estar, como nos sugeriu também um certo Raul, dois anos depois de Bruce, sempre em uma metamorfose ambulante. Aliás, você já parou pra refletir sobre o que, realmente, é uma metamorfose ambulante? Metamorfose é a condição de algo em constante mutação em sua forma e estrutura, natureza ou hábito. Ambulante é aquele que se move, que migra, que não se mantém fixo. A metamorfose ambulante é a modificação em movimento, a mudança que nunca para, pois parar vai contra sua natureza e seu sentido.

A água é uma metamorfose ambulante – e ser água é o que pode trazer sobrevida à espécie humana.

Foto de Anastasia Taioglou no Unsplash

Tempos modernos

Zygmunt Bauman morreu em 2017; ou seja, viveu para ver a passagem do tempo e a necessidade de adaptação que cada época demandava de quem queria continuar relevante. Em 1999, publicou pela primeira vez o que seria considerado sua obra-prima: o livro Modernidade Líquida.

Para ele, antes da virada do milênio, já era certo que a confiança sólida e imutável das pessoas no futuro arquitetado pela razão e os costumes estava com os dias contados. Viveria melhor, a partir de então, quem se adaptasse ao cenário de incertezas em que a única constante possível é a mudança.

A modernidade líquida, para Bauman, é a fluidez dos valores e das ideias; a ausência de uma forma definida, como, até então, as pessoas achavam que a vida profissional fosse. Estudar, formar-se, ter um emprego e ficar nele até a aposentadoria foi um roteiro certo para algumas gerações, mas não mais. 

Quem não se atentasse à velocidade das mudanças, à mobilidade e à inconsistência das carreiras, poderia se perder e perder a sua essência no século XXI.

Contudo, no mesmo livro, nosso amigo Zygmunt destaca que, em cenários caóticos de mudança e até certa leveza nos processos que levam a ela, não poderíamos deixar de ser aquilo que sempre fomos e sempre iremos ser: humanos.

TUDO É MAIS FÁCIL NA VIDA VIRTUAL, MAS PERDEMOS A ARTE DAS RELAÇÕES SOCIAIS E DA AMIZADE.

Uma de suas frases mais memoráveis - “vivemos tempos líquidos, nada é para durar” - serve, ao mesmo tempo, como acalento e arrefecimento: se nada é para durar, nada pode se fundamentar em regras imutáveis; e, se nada é para durar, nós também passaremos e deixaremos, eventualmente, de ser relevantes.

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Um novo profissional para o novo mercado

Como a diferença entre o remédio e o veneno está na dose, precisamos ler os cenários e estudar a sabedoria de quem veio antes de forma a aproveitar o pensamento de outros ao nosso próprio contexto.

Assim, tanto Bauman quanto Lee, tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão intelectualmente iguais, nos convidam a desenvolver um novo modelo de profissional para as carreiras do futuro.

Gosto de chamar essa figura de “profissional líquido”. Ela é quem tem capacidade de adentrar qualquer cenário, com quaisquer adversidades, e não se findar nas próprias crenças de como as coisas deveriam ser, mas enxergar verdadeiramente como elas são e fazer o que deve ser feito.

O profissional líquido vai nadar com a corrente, e não contra ela, no sentido de vislumbrar soluções que se antecipem aos problemas e trazer para o ambiente de trabalho a essência humana que muitos de nós perdem, graças ao avanço tecnológico e de aprendizado das máquinas.

Essa pessoa é a responsável por ter empatia, compreender a diversidade, modificar cenários para nutrir a criatividade de suas equipes, liderar sem amarras. Não raramente, o profissional líquido é justamente aquele que inova e inspira, que agrega e constrói.

Profissionais líquidos no RD Summit 2022

Se você ainda não é um profissional líquido, fica aqui o meu convite: depois de Bauman e Lee, aprofunde-se no tema e busque referências para desenvolver as competências indispensáveis a essa descrição. 

Uma delas pode ser a palestra Habilidades do Agora e Carreiras Líquidas - Como se desenvolver todos os dias, que vou conduzir, em nome da Profissas, no RD Summit 2022

Vamos falar sobre o que o futuro espera de um profissional líquido e, para não dizer que não avisei, aqui vai o alerta de spoiler: quando o papo terminar, já estaremos atrasados na construção da nossa própria liquidez. Afinal, como diz aquela musiquinha de final de ano da emissora de TV, o futuro já começou.

De que forma você vai enxergá-lo?

Venha para o RD Summit
Lucas Lima

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